Proposta para retomada da Ceitec iniciou o debate sobre o mercado semicondutor no evento
Considerado um dos maiores eventos de inovação do mundo, o South Summit teve a sua segunda edição realizada em Porto Alegre. Trazendo temas sobre sustentabilidade, inovação, tecnologia e educação, o evento também trouxe ao palco a discussão sobre o mercado de semicondutores. Quase todo o equipamento eletrônico utiliza semicondutores. O cenário em relação ao tema de semicondutores mudou e o Brasil, de acordo com Adão Villaverde, professor da Escola Politécnica da PUCRS, não pode perder a oportunidade de estar no grupo que domina e tem expertise no tema.
No Brasil, a produção desses semicondutores era realizada pelo Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec). A estatal, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, tinha instalação em Porto Alegre, é conhecida por ser a única da América Latina a produzir semicondutores em larga escala. Para o professor Augusto César Gadelha, gestor da Ceitec desde fevereiro, a estatal é uma estratégia para a política de semicondutores no País. Em 2020, a Ceitec foi incluída no Plano Nacional de Desestatização.

No South Summit Brazil, o futuro da estatal foi discutido em um dos painéis conduzidos no RS Innovation Stage. Em mais de dez anos de atuação, a Ceitec produziu mais de 100 milhões de semicondutores. Da frota nacional com identificação veicular, 52% usam chip Ceitec. O mediador do painel, Ricardo Reis, professor de microeletrônica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), apresentou que o tesouro brasileiro investe dez vezes mais no agronegócio do que na indústria eletrônica. A afirmação representa 0,05% do Produto Interno Bruto (PIB).
Para Adão Villaverde o mercado de semicondutores é estratégico geopoliticamente. Isso ocorre porque a Ceitec seria a única a fabricar microchips, colocando o Brasil em destaque e vantagem de ser um player global na área. O debate sobre o setor de semicondutores no Brasil conduz os envolvidos a uma conclusão: o investimento em recursos humanos. Isso quer dizer que é preciso investir na qualificação de recursos humanos para atuarem na área. O professor Sérgio Bampi apresentou uma proposta de reorganização do modelo de negócios do Ceitec, envolvendo a criação de um Instituto Nacional de pesquisa na área de semicondutores.
O segundo painel sobre o tema tratou sobre a indústria de semicondutores na perspectiva de três empresas multinacionais atuantes no RS: HT Micron,com a presença da diretora Edelweiss Ritt, Ensílica, com o diretor Júlio Leão, e Impinj, com Guilherme Breier.

O diretor da Ensílica, Júlio Leão, destacou a demanda global e a necessidade do olhar competitivo. “É fundamental a criação de programas de treinamento específicos para capacitação de RH para a área de semicondutores. Tanto o estado do RS, quanto o Governo Federal, precisam implantar tais programas de formação o mais rapidamente possível, haja vista a alta demanda por RH no momento.”, comenta. De acordo com ele, o mercado brasileiro de semicondutores corresponde a 1% do mercado mundial. Nesse sentido, empresas que desenvolvem projetos de chips precisam focar em aplicações pensando no mercado mundial.
Edelweiss também chamou atenção para o desenvolvimento da área. Segundo a diretora da HT Micron, o setor necessita de aporte financeiro. “Temos que olhar ainda mais para o mercado externo. É preciso dar atenção para o desenvolvimento da área. Não existe indústria de semicondutores sem investimento”, completa.
Durante o painel, os três diretores ressaltam o uso dos eletrônicos. Para Guilherme Breier, engenheiro da Impinj, a pandemia potencializou ainda mais esse uso. “Qualquer produto eletrônico precisa de semicondutores. É necessário formar mais engenheiros e precisamos de um apoio específico para essa formação”, afirma. Para os diretores, além da formação e investimento, o Brasil precisa criar estratégias para atender a indústria de semicondutores. “Se não gerarmos demanda, não conseguimos colocar o produto no mercado”, completa Breier.
As três empresas criaram suas subsidiares no Brasil em função dos talentos formados pelas Universidades gaúchas, e pela experiência profissional propiciada pela Ceitec.