
Nesta sexta-feira, dia 19 de novembro, é comemorado o Dia Mundial do Empreendedorismo feminino. A data, que foi criada em 2014 pela Organização das Nações Unidas (ONU), tem o objetivo de destacar a atuação e o protagonismo das mulheres empreendedoras. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o número de empresárias atuando no mercado já corresponde a 9,3 milhões, o que equivale a 34% do mercado.
Em meio a um cenário desafiador, empreendedoras que fazem parte de iniciativas do Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc), falam sobre a experiência de ser uma mulher empreendedora. Confira o depoimento de quatro empreendedoras que fazem parte do ecossistema:
Gislaine Almeida, empreendedora da Exemplaria e participante do Women on The Road:
“Como mulher e negra, me considero abençoada, principalmente porque sei que não tive grandes dificuldades na minha caminhada. Por isso, me considero privilegiada. Cada um segue um rumo, com seus obstáculos, percalços, vitórias e conquistas. Como empreendedora minha sorte foi ainda maior por ter cruzado com outras pessoas que só tornaram ainda mais brando meu aprendizado e crescimento profissional. Entrei como estagiária em pesquisa em uma empresa, onde as pessoas reconheciam meu trabalho muito mais do que eu mesma. A chave virou, quando recebi proposta de um dos clientes querendo me contratar, e não aceitando subir na “hierarquia” até que me torno sócia na empresa em que inicialmente estagiava.
Dali em diante tive o prazer de desempenhar atividades de meu gosto pessoal, conhecendo também outras áreas e atividades de uma empresa, participando em todas elas de alguma forma e com isso crescendo mais ainda profissionalmente. Claro que o empreendedorismo no Brasil não é só mar de rosas, mas de cada burocracia, cada entrave, conseguimos aprender, e mulheres brasileiras tiram leite de pedra. Hoje em minha empresa somos majoritariamente sócias mulheres, e disso tenho muito orgulho!”
Karine Carvalho, empreendedora da Terceiriza e participante do Startup Garage:
“Sempre tive sangue empreendedor correndo nas veias, porém demorei 10 anos para assumir isso. Em 2018, com o nascimento do meu filho, pedi demissão de uma carreira em ascensão para empreender. Passando por muito medo, instabilidade, mas também com muita garra e vontade de fazer meu melhor, as conquistas vêm chegando. Hoje me arrependo de não ter começado antes! Mas como tudo na vida tem o seu tempo certo, empreender também se encaixa nessa frase e também mostra o quando nós mulheres, somos fortes, imparáveis e guerreiras. Empreender é desafio diário com senso de dever cumprido ao final do dia. É um misto de cansaço e felicidade. Empreender é para mulheres que precisam de desafio para ser feliz!”
Josiane F. John, Co-founder da Value Care e participante Road
“Sou médica intensivista, foram quatro anos de cursinho para passar no vestibular, seis anos de faculdade de medicina e quatro anos de residência médica, sendo mais dois anos de mestrado e uma jornada longa, porém bem objetiva, dependia só de mim.
Em 2015, surgiu um desejo de empreender, mas estava imersa no trabalho e não fiz nada para acontecer. No final de 2019, participei de um evento de inovação na PUCRS que me motivou a retomar os planos.
A área da saúde ainda é muito frágil de projetos e produtos inovadores, há muita resistência, mas eu já vinha estudando sobre value-based healthcare e como esse modelo de cuidado poderia gerar valor para toda a cadeia da saúde e ser sustentável ao sistema. Pensei em construir produtos nessa área, aliando tecnologia e saúde.
Então, em março de 2020, conheci quatro empreendedores da área de TI e começamos a discutir em como unir forças. Formalizamos a empresa em julho de 2020, mas até aí foi fácil.
Tínhamos o problema bem definido – ineficiências na área da saúde, porém como mudar isso, foram seis meses em processo de ideação, em dezembro o primeiro contrato assinado, quase um ano de luta e um contrato de MVP, mas terminamos 2020 com esperança.
Começamos a validar o produto apenas no último dia de janeiro de 2021, tudo muito difícil, burocrático, múltiplas reuniões. Em junho deste ano, validamos nossa solução, lá se foram 18 meses e agora é hora de captar clientes, nosso time é show, porém sem nenhum founder da área comercial, então fomos atrás de ajuda.
Agora estamos nesse processo de organizar a governança da empresa e encaminhar a área comercial.
Quase dois anos e ainda não conseguimos andar como gostaríamos. Confesso, múltiplas vezes pensei em seguir apenas minha profissão de médica e parar de “inventar”. O que me faz permanecer perseverante é a confiança que tenho nos meus sócios, somos complementares, o apoio do meu esposo e a fé. Eu realmente acredito que com a nossa solução tem potencial de melhorar os resultados dos pacientes e ainda reduzir gastos desnecessários dos provedores e prestadores de saúde.”
Mariana Accurso, CEO e founder da Lygia Sistemas Inteligentes e participante do Orbit :
“Empreender é um caminho desafiador e fantástico, para quem acredita no seu sonho/projeto, tem perseverança e está disposto a aproveitar a jornada como um todo.
Na hora de escolher essa direção, é importante que o empreendedor tenha consciência, que não será fácil, que tenha conhecimento que terão alguns obstáculos, problemas, que será necessário muita dedicação, comprometimento, foco e acreditar no que está criando.
Nem todo mundo tem perfil para ser empreendedor, pois ser empreendedor é muito mais do que ser “dono do negócio”, é ser construtor do negócio, é meter a “mão na massa”, é ter que ir atrás de conhecimentos até fora da sua área de formação, é ser resiliente, é não desistir diante do primeiro não. Quem escolhe empreender unicamente pelos motivos de querer ter mais liberdade de horário, ou achar que assim não prestará contas para ninguém ou exclusivamente pelo lucro, acredito que estará fadado ao fracasso e deixará de desfrutar a melhor parte da jornada.
Ser mulher e empreendedora diria que é um desafio ainda maior, pois apesar de estarmos no século XXI, ainda vivemos numa sociedade em transformação, com algumas amarras machistas. Quando resolvi encarar esse desafio, me atirei de cabeça, porque me apaixonei pelo projeto, pelo desafio e por tudo que a Lydia representava. Na época eu já tinha mais de 30 anos, estava saindo de uma experiência profissional de quase 10 anos de “C level” de uma multinacional, neguei alguns convites para voltar para a função de CFO em outras empresas, para empreender numa startup, o que para muitos era um retrocesso gigantesco. Mais de dois anos se passaram e apesar de todos os desafios, não me arrependo da escolha e estimulo amigas e outras mulheres a seguirem esses passos, porque nada lhe recompensa mais (na minha opinião) do que ver algo crescer e ter sucesso, sabendo que você fez parte da construção.”