No Tecnopuc, duas multinacionais atuam nesse segmento, a inglesa EnSilica e a americana Impinj

Você pode nunca ter percebido, mas os semicondutores fazem parte do seu dia a dia. São matéria-prima de chips utilizados em uma variedade de dispositivos, de smartphones a veículos. Estratégico geopoliticamente, esse mercado que movimentou R$ 2,9 trilhões no ano de 2022, é atualmente liderado por Taiwan e Coreia do Sul, com fortes investimentos da China e grande interesse dos EUA e de países europeus.
No Brasil, a retomada do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) tem dividido opiniões e causado expectativa para o mercado nacional de semicondutores. A estatal é considerada a única empresa da América Latina capaz de produzir chips do planejamento à aplicação final. Porém, o restabelecimento como empresa pública gera dúvidas acerca da capacidade de atuar com agilidade em um segmento de rápidas transformações.
No Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc), duas multinacionais atuam nesse setor, a inglesa EnSilica e a americana Impinj. Ambas se instalaram no Parque em 2021, após o governo federal incluir a estatal no Programa Nacional de Desestatização. Na ocasião, as gestões das multinacionais encontraram em Porto Alegre as condições que precisavam para iniciar suas operações no Brasil: profissionais qualificados, oriundos da própria Ceitec, e infraestrutura adequada. Com a reversão da liquidação da empresa, membros do Tecnopuc comentam as oportunidades e os desafios dessa nova fase.
“A importância de a Ceitec voltar é ter mais um ator do segmento de semicondutores na nossa região. Sozinha, ela não é capaz de produzir o suficiente para trazer autonomia no segmento para o Brasil, mas é um ator importante para o nosso ecossistema”, destaca Júlio Leão, diretor da EnSilica Brasil. Julio pondera, porém, que os desafios a serem enfrentados pela estatal são muito maiores que os do passado e envolvem a escassez de mão de obra e a necessidade de ser ágil e flexível para acompanhar esse mercado em rápida transformação.
Jorge Audy, superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS e do Tecnopuc, avalia que, entre os fatores necessários para o sucesso do país nesse mercado, estão atuar na formação de talentos e investir em Ciência e Tecnologia. Ele considera esse momento de retomada como muito importante para a área de Ciência, Tecnologia e Inovação de Porto Alegre, do RS e do Brasil: “Agora, o desafio é retomar a produção da primeira fábrica de semicondutores no hemisfério sul, muito relevante para o desenvolvimento de nosso país nesses tempos de transformação digital e onde a soberania nacional está relacionada diretamente com o domínio dos ciclos científicos e tecnológicos em áreas críticas”.
A cerimônia de retomada da Ceitec aconteceu na última terça-feira, 14, em Porto Alegre. A Ceitec deve voltar a operar em 2024.